Que saudade...

Com a turma de Melissa, após minha " aula " sobre o Brasil! :)

 Engraçado que ao mesmo em que tudo está indo muito bem por aqui (bem melhor que os meus primeiros meses) a saudade só faz aumentar... As vezes sinto falta até de algo que nunca, mas nunca nem mesmo gostei. Mas isto tambem é outro ponto, é muito interessante como passamos a valorizar coisas simples. Essa semana tive um momento em que senti cheiro de terra molhada (aquele típico de quando começa a chover) e acho que despertou lembranças boas, de Caicó talvez (onde sempre valorizamos cada gota de chuva) e apenas isso me fez sorrir e levantar o meu astral para o resto do dia de trabalho. O clima fica cada vez mais quente ( a estaçao mais quente do ano se aproxima) e o ar insuportalvelmente seco. Sem contar os esgotos a céu aberto e o lixo por todos os lados, entao agora talvez fique fácil entender o porque do simples cheiro de terra molhada me fez tão bem :):):).

Estava me sentindo um pouco sozinha, morrendo de saudades das minhas amigas, daquelas em que podemos falar de tudo e em qualquer hora, e mesmo nos momentos mais dificeis, basta estar perto para que as gargalhadas cheguem (rindo das proprias desgraças- tenho certeza que elas sabem muito bem do que estou falando) e tudo simplesmente fica mais leve... Claro que já fiz muitos amigos novos aqui, e mesmo que as barreiras das linguas já estejam quase (ou totalmente ) vencidas, ainda não tinha sido a mesma coisa. Aí, ganho uma nova amiga, e para melhorar mais ainda: brasileira!! Bastou uma saída para um lanchinho, para os sorrisos tornarem tudo mais leve... A Gabriela é do Rio e missionaria, chegou há pouco no Mali para ficar tres anos. Já morou na Africa uma outra vez (Sao Tomé e Principe) e decidiu voltar para a jornada. Estávamos comentando um dia desses sobre valorizar as coisas simples, como encontrar algum tipo de comida com sabor familiar e até encontrar guardanapos em promoçao!!!! (risos). Pois é, nao sei se já comentei aqui, mas aqui na Africa a maioria dos itens de supermercado são absurdos de caro ( e restaurantes tambem). Possivelmente porque a maioria das coisas são importadas, como eles nao produzem muito, e aí lá vem todos os impostos e taxas... Então, com a presença da Gabi, e alguns poucos programas simples, mas bem familiares como ver um filme comendo brigadeiro e pipoca, o Mali melhorou muito...

Esta semana fui na escola cristã para filhos de missionários, onde as minhas colegas de ap são professoras, e Sara me convidou para fazer uma aula sobre o Brasil, já que eles estavam estudando a América do Sul. Teria que falar sobre a minha vida no Brasil e as semelhanças e diferenças com a vida na Africa (detalhe- aula em ingles). E apesar de ter me divertido muito, a saudade aumentou...E me encontro em um meio de sentimentos conflitantes entre a saudade de casa e a descoberta de uma vida aqui, sem saber as vezes o que prevalece.

Um bom exemplo é minha relaçao com Melissa e Sabrina (filhas da Paula e Edinho, casal de brasileiros que moram aqui). Já sinto dor no coração quando Melissa pergunta em que mes eu vou embora, parece o mesmo aperto quando sinto falta das minhas irmãs (na verdade elas tem quase a mesma idade das minhas irmãzinhas)...

Bem, e falando de trabalho, o projeto está indo muito bem, e eu no meio de reflexoes, novas ideias, pesquisas e estatisticas. Tento sempre relacionar o que cada uma daquelas mulheres me contam, ou me perguntam com tudo o que podemos fazer para melhorar a saúde aqui. Já senti falta de todo o ambiente hospitalar do Brasil (já que aqui tenho trabalhado com prevençao e mais com a comunidade), mas lendo sobre a historia de um médico americano (Allan Rosenfield- " um médico que tratava países, e não pacientes") que criou uma organizaçao de combate a mortalidade materna (AMDD) e desenvolveu muitas estrategias para melhoria da saude em países pobres, me lembrar que as soluçoes na maioria das vezes são coisas simples...E aí tento pensar que estou tratando um local, ajudando mais pessoas que apenas um único paciente, todas as vezes que me esforço para que os grupos entendam coisas básicas, como a importancia de lavar as mãos, levar as crinças com febre ao médico e praticar o aleitamento materno. Como sempre falamos, é com educação que mudamos o que parece impossível mudar...

PS. To tentando por uma parte do vídeo do teatro aqui, e se a internet ajudar, voces vão poder conhecer um pouco mais...