quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Livro

Mais de três meses da minha volta para a " vida normal"... Matei as saudades do mar, dos amigos, da familía, dos hábitos antigos  e de tudo o mais que as vezes sentia falta no Mali. Quando tenh alguma oportunidade de falar da temporada na Africa, tudo parece um sonho distante...Difícil acreditar, estando de volta na rotina, que ano passado nesta mesma epoca do ano eu estava me adaptando em um país tão diferente, mas que me traria tantas surpresas, como amigos, amores e modificações interiores. Entrar na vida de hospital, muito estudo e trabalho, e na rotina louca de sempre, fez com que o sonho do Mali fosse perdendo nitidez de cores e faces, e resolvi escrever hoje como forma de recuperar cada lembrança vivida.
Quando me perguntam se eu sinto saudades, a resposta é um sim vago, não tão cheio de forças como era no dia que deixei aquele local e hoje me peguei pensando como temos resistência a mudanças! Como a inercia de continuar no estado que já nos encontramos nos impede de ver novos horizontes... Como fui uma vez, contemplei as noites e os amanhecerem, os sorrisos e as lágrimas, as angustias e as certezas, e agora tento organizar em algum local do meu ser todas os sentimentos e experiencias para que nada se perca...Tento dizer ao meu coração que tudo foi real, e que ele ainda pode escolher viver de novo outros horizontes, que não se amedronte nunca!
Os contatos que deixei, tem se resumido a emails esparsos, escritos apressados em alguns minutos que sobram durante a madrugada durante os plantões e as poucas horas de sono. Como preciso dedicar a minha alma a causa que acredito, mas como me manter conectada vivendo agora em um mundo que parece tão distantte?
Perguntam sempre se vou escrever um livro sobre os meses em que morei por lá. Queria antes poder escrever a minha vida sobre aquele local, unir os dois mundos, marcar com ferro para que aquela experiencia não se torne um sonho sem nitidez, uma lembrança boa, mas longe da minha realidade.
Sobre o Arte de Nascer nascido no Mali, este sim virou um livro! Enquanto eu fazia as aulas, compartilhava as experiencias com as belas mulheres e aprendia muito mais do que pude imaginar, registrava o que viria a ser um guia para a semente que plantava na Africa! Com as cores vibrantes e a força da mulher africana, com o entusiasmo de uma menina que descobria um mundo inimaginável, com a delicadeza de encontrar meios de mudar a realidade por meio da educação e da arte, e com a mesma visão sublime que tenho da gestação, nasceu o livro L´ART DE NAÎTRE. Regado e protegido pelos lindos poemas que Coumba escreveu sobre maes e crianças, e com a capa e a diagramação feita pela amiga Rosa Morena, eis o filhinho que nasce após os nove meses no Mali:



E tentando ainda fazer com que o projeto continue no Mali, vejo uma forma de unir os dois trabalhos...Incorporando as idéias da experiência vivenciada, tenho procurado reorganizar o Arte de Nascer no Brasil. Cheia de idéias e iniciando um novo grupo de gestantes, planejo como faremos o projeto ganhar asas! Mas isto publicarei em outro post :)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Finalizando

E chega a temida hora de fazer as malas... Fiquei me perguntando se conseguiria manter a idéia e o projeto vivo após a minha volta para casa... Um último encontro com as mães do grupo de Kati me fez perder um pouco a vontade de ir embora. Muito bom ouvir que mesmo o projeto que na minha opiniao poderia ter sido mais, fez diferença na vida delas... Ainda faltam alguns bebês para nascer e como eu queria ainda participar destes momentos...

Em um almoço com Coumba e Violet que foram os meus braços direito e esquerdo aqui, fizemos uma avaliaçao da temporada no Mali. Confesso que até aquele momento, ainda não tinha noçao de alguns aspectos do significado do projeto para o Mali... Quando Violet comentou de como a minha idéia (de trabalhar com as adolescentes de aldeias com gravidez nao planejada) era inovadora para os conceitos do Mali, fiquei bem pensativa. E lá vieram histórias contadas de como para elas realmente significa o fim da vida. Rejeitadas pelas famílias e excluídas socialmente de todas as formas, não fica difícil entender o porque do número alto de infanticidios, abandono de crianças e a morte de alguns bebês para quem insistiu em recebe-los...Em locais em que a sobrevivencia é dificil, por condiçoes geograficas e economicas, a falta de apoio para uma criança que se torna mãe pode ter finais bem mais trágicos do que nos permite a nossa imaginaçao alienada. Fiquei com lágrimas nos olhos quando Violet contou uam história de uma aldeia em que os proprios moradores dizem que os filhos de meninas nao casadas não podem nascer nem voltar para o vilrejo, que é morte na certa, lembrando que o " Arte de Nascer" no Mali, foi a primeira iniciativa que ela conhece por aqui depois de 30 anos trabalhando com organizaçoes sociais neste país...

A conversa gerou mais e mais idéias. Definitivamente não posso deixar que o projeto se perca em meio a preconceitos culturais! Decidimos tentar organizar uma rede de voluntários (provavelmente universitários ingleses que passam uma temporada no Mali em trabalhos sociais) para continuar realizando o Arte de Nascer com a ASDAP, que foi a organizaçao que abriu as portas para a idéia. Pensamos em aplicar a metodologia em uma universidade que forma midwifes (profissionais que realizam a maioria dos partos no Mali), para que se mude a forma de olhar para as gestantes na localidade...E por aí vai!!!! :)

Continuei as malas com o coração tranquilo...No fundo, sinto que a jornada na Africa está apenas começando. O fim de um ciclo pode apenas significar o início de outro! E talvez bem maior.

domingo, 8 de maio de 2011

Mãe

E como continuo no clima de maternidade por aqui e bem longe da minha mãezinha, não poderia deixar de postar algo relacionado ao único dia dedicado a elas!

Para aquelas que renunciam os seus sonhos para se dedicarem aos filhos, aqui vai a minha homenagem...Para aquelas que ainda não conseguem renunciar aos seus sonhos, que descubram que melodia e o sabor da arte da maternidade vão além de qualquer outro vivenciado...

E para as muitas mães africanas que morreram ontem e morrerão hoje por causas totalmente evitáveis eu dedico as minhas preces e  reafirmo o meu compromisso de lutar de alguma forma para que a situação mude..

E para a minha querida mãe, que me deu a vida e me permite continuar crescendo, eu envio meu profundo amor... Se pudesse escolher uma outra vez, voce seria minha mae de novo e de novo, até ficar cansada de me ter como filha! :)

Às que ainda não são mães mas se preparam para o ofício, que os coraçoes dos que pulsam junto aos seus possam lembrar a cada segundo a sublimidade deste momento, fazendo afastar qualquer sombra junto ao raio de sol...


http://maternalhealthtaskforce.org/component/wpmu/2011/05/06/the-next-and-last-generation-of-maternal-health-experts-making-mothers-day-their-work-day/?utm_source=Blog+Subscribers&utm_campaign=ef009b8caf-RSS_EMAIL_CAMPAIGN&utm_medium=email

PS. E esse link é sobre a conferencia de Ghana e o dia das mães escrito por Tim Thomas (MATERNAL TASK FORCE)

sábado, 7 de maio de 2011

FUTURE FORUM

Este foi o nome da conferência organizada para todos do programa em Accra, Ghana na primeira semana de maio. O depois, os novos planos e oportunidades após a experiencia dos 9 meses vivendo em um mundo completamente diferente do seu. No segundo dia eu já estava agradecendo a oportunidade de ter reencontrado todos, estava mesmo precisando de um momento assim. Dividimos as experiencias, as dificuldades, os aprendizados e as mudanças...Sim, estas foram muitas, e confortaram meu coraçao. Não é somente eu que estou me sentindo uma outra pessoa e pensando nas dificuldades que enfrentarei de volta a vida normal...

Tivemos treinamento em empreendedorismo social, palestras sobre como conseguir parcerias financeiras para iniciar nossas proprias organizaçoes e como tornar as nossas idéias sustentaveis... Conhecemos pessoas que começaram do nada apenas com muita vontade e oferecem hoje grandes trabalhos para a comunidade. Voltei com a cabeça a mil, cheia de idías e sem saber como e por onde começar. Mas o melhor de tudo foi a inspiraçao e força que contagiou a todos nesses dias que ficamos juntos. São 15 pessoas de 12 países diferentes, mas no fundo parecem ter a mesma essencia, os mesmos sonhos e a mesma forma de ver o mundo! Não é a toa que mesmo longe nos sentimos como uma grande familia...E as idéias de um, a troca de experiencias, as dificuldades de outros resultou nessa inspiraçao profunda! Saímos com mais vontade de mudar, acreditando que é possível fazer a diferença, reafirmando os laços e os compromissos de defender as mulheres e a saúde materna deste planeta! E pelo que falaram os organizadores do programa e os financiadores, que nos acompanharam durante todo este tempo, eles também foram contagiados pela  energia do grupo. Como foi a primeira experiancia de um programa como esse a nível mundial, sabiam que era um risco investir em pessoas e não em organizaçoes (o que sempre garante mais estabilidade). Mas contemplando as idéias e as açoes de todos durante os 9 meses em 8 países diferentes e todos os planos para o futuro, entenderam que o fim do programa seria apenas um grande começo.

Voltei para o Mali com esta sensaçao, de estar começando uma nova etapa, e isso trouxe um pouco de conforto as angustias e anseios da volta para o Brasil! Tivemos a idéia de criar um fundo para o grupo (Young Chanpions of Maternal Health) e assim poderíamos iniciar os projetos e ajudar aqueles que possivelmente terão mais dificuldades em obter recursos para começar, lembrando do fato que sempre é difícil oportunidades para pessoas jovens nesta área de empreendedorismo social, e unidos teremos mais força :)

Acho que depois desda ultima semana sou bem mais apaixonada pelo programa que participei, e agradeço de coraçao esta oportunidade. Ver naquela sala pessoas de todas as religioes, culturas, raças e níveis sociais, unidos por um mesmo ideal, foi uma das experiencias mais ricas que pude presenciar...Fazer amigos de todos os locais do mundo, poder partilhar experiencias e planos com pessoas tão diferentes e tao proximas, que mesmo com tão pouco contato são capazes de entender minha essencia como ser humano, foi maravilhoso!

Ainda tenho muito a falar sobre todas estas sensaçoes mas vamos aos poucos! (correndo para finalizar o trabalho aqui e começar a fazer as malas)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Koutiala 2


Mais uma semana em Koutiala, mas desta vez nao precisei pegar o ônibus pesadelo (ufaaaaaaaa). É o momento de começar o último passo, um dos objetivos do programa Young Champions of Maternal Health: além de desenvolver a sua idéia, escrever o projeto, implanta-lo, teríamos tambem que encontrar pessoas para continuar o trabalho depois que voltarmos aos nossos países de origem. Como este dia já se aproxima com o fim dos 9 meses do programa, decidi que na viagem a Koutiala iria fazer alguns encontros nos moldes do " Arte de Nascer" para que eles entendessem como seria o trabalho. A ONG ASDAP se propos a replicar a minha idéias em várias zonas rurais do Mali. Como eles já desenvolvem um trabalho na área de saude reprodutiva com mulheres, escolhi que eles direcionassem o Arte de Nascer para adolescentes, as meninas com gravidezes nao planejadas e que sofrem todos os tipos de preconceito por viverem em um país mulçumano. Grávidas antes de "arranjar marido", ainda crianças e abandonadas pela família pela " vergonha" que causaram aos valores morais da sociedade, acabam não tendo muitas oportunidades...Também descobri que apesar de existirem muitos projetos com jovens no Mali, programas específicos para adolescentes grávidas praticamente nao há nenhum!

Fiquei um pouco apreensiva, porque eu nao teria tempo de desenvolver os 12 encontros e o projeto por inteiro, seria apenas alguns encontros abordando os principais temas do curso e desenvolver algumas das atividades com arte, para que as monitoras da ONG também pudessem participar e "sentir" um pouco a minha forma de trabalhar. Chegou o dia do primeiro encontro, e quando vi os rostos de criança e a timidez de todas elas senti frio na barriga...Tarefa difícil, ainda mais quando eu não teria muito tempo para estabelecer vínculo e mostrar por completo o trabalho. Por outro lado, foi um dos momentos mais especiais para mim nos ultimos meses por ser a faixa etária que mais gosto de trabalhar!:)


Começamos o encontro com as apresentaçoes, aula de fecendaçao e embriogenese, e entramos nas duvidas mais frequentes das gestantes, em que o espaço fica aberto para qualquer duvida. Silencio e mais silencio, até que uma das garotas que não tirava os olhos do chão, conseguiu fazer a primeira! E lá se foi uma hora apenas para responder as duvidas do grupo. Com a alta taxa de analfabetismo no país e a repressão à mulher, elas nunca tem uma chance de perguntar e aprender um pouco mais sobre si mesmas ou sobre a gestaçao! A conversa e a cumplicidade fluiu e ao fim já me sentia em um meio totalmente familiar, cuidando de primas mais novas...


A aula de arte do primeiro dia: fotografia, que escolhi cuidadosamente, para quebrar um gelo que não existia mais quando a atividade começou. Mas o olhar de triste da maioria (ou de todas elas) mudou nos primeiros segundos com as cameras na mão! E lá se foram mais fotos com cores e vidas que trarei na bagagem de volta.


Ou outros dias seguiram no mesmo ritmo, mas vale comentar o momento arte da ultima reunião: pintar algo para o bebe, com tintas e pincéis. Apesar de nao ser uma das atividades que inclui quando adaptei o projeto para o contexto local, o material que ainda estava fechado precisava ser utilizado antes da volta. Por que foi especial? Porque elas nunca tinham visto pincéis e tintas!!!!! Nem ao menos conheciam o nome...

Aproveitei para andar pela cidade, aproveitando a hospitalidade de Dra Assiata e a companhia da amiga brasileira, Gabi, que me acompanhou na viagem. :)

No  momento fazendo as malas para a conferencia de Ghana, e muito ansiosa para rever todos os outros do programa, que conheci em agosto antes de todas as experiancias que nos aguardavam em países ao redor do mundo. Falando de mim, sou outra pessoa, e me pergunto o que houve com cada um daqueles outros jovens...

Notícias em breve, de Accra, Ghana (a propósito, de bem perto do mar!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)

domingo, 24 de abril de 2011

Feliz páscoa! :) :) :)

Morando em um país mulçumano fica dificil lembrar com muita antecedencia dos feriados cristãos...Não vejo os ovos de chocolate no supermercado e nao tenho TV para ver os comerciais. Impossivel de esquecer quando se aproxima e os amigos e as conversas da net desaparecem, afinal ta todo mundo fora! E quem nao está em viagens,  ficou para dar plantao (falando do meu grupo de amigos :)

Fomos para uma celebraçao dos missionarios americanos, e morando com alguns deles veio o convite para pintar ovos de galinha. " Pintar?" Acho que nao temos isso no Brasil nao, mas pq não? Me animei quando tive a idéia de dar para as crianças que moram aqui perto do nosso ap e sempre estao brincando soltas pela rua. Ovos cozidos pitntados pelos artistas aqui, onde humildemente me incluo :) :):):) Segue algumas fotos!


Ah e desculpa pela demora de novos posts. Como o fim se aproxima, e com isso o trabalho de relatórios, avaliaçoes, e estruturaçoes do trabalho aqui, tenho passado algum tempo em trabalhos burocráticos e teóricos. Mas proxima semana tem Koutiala e na primeira semana de maio, Ghana! A ASHOKA resolveu reunir a todos que participaram do programa para um encontro, e mal posso esperar para rever todos, compartilhar as experiencias e aprender muito mais! Ainda mais porque melhorei o meu ingles nos ultimos meses e será bem mais facil que Nova Delhi.


Também decidi postar algumas coisas sobre as diferenças culturais, ja que inicio o fim da jornada. Escolherei as 10+:  as 10 coisas que mais marcaram, que são exóticas, diferentes, difíceis de acreditar e ,de uma forma ou de outra (incluindo positivo e negativo), marcaram meu tempo aqui... Aguardem!!!!