quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A arte de ser mãe na África!

 " O que eu faço é  uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela o oceano será menor" (Madre Tereza)

E enfim chega o dia do primeiro grupo de gestantes: em Kati (na cidade do utltimo post), e com a participação de Coumba (que falei no penúltimo post), e que inclusive será a  minha mentora nesta nova etapa do treinamento. Início das apresentaçoes, propostas e eu tentando aprender algum daqueles nomes diferentes e arriscando algumas palavras em bambara...Tem alguém que vai participar do grupo e pode traduzir para o dialeto???? Ufaaaaaaaaaaa, tem sim, uma técnica em enfermagem cheia de idéias para a àrea materno infantil do Mali. Bem vinda sempre!


Quando começo as atividades percebo que nem todas as mulheres estão grávidas...Ah, parece que foram convidadas algumas que trabalham com crianças em jardim de infância e outras que tem voz na comunidade. Achei que seria uma boa sim, já que Coumba tem um projeto de resgate das brincadeiras infantis tradicionais e jogos populares, e já combinamos de inseri-los nas dinâmicas deste novo grupo. Me chamou a atençao um homem que sentou com a intençao de participar. No Brasil costumo incentivar a participação dos parceiros, mas em um país mulçumano não sei ao certo se seria uma boa idéia, visto aos vários tabus que envonvem todos os assuntos relacionados ao processo reprodutivo. De qualquer forma, quando ele se apresentou como marido de uma das gestantes e futuro pai do primeiro filho, não tive como recusar.

Falo da união da medicina e arte, do projeto que já realizo no Brasil, e do interesse em construirmos algo aqui neste sentido. E em segundos já surgem várias idéias...Eu já sabia da riqueza cultural do Mali, contrastando com a pobreza material, principalmente na área da música. Aí ja falam em alguem que pode vir na proxima aula tocar um instrumento da região e bem popular entre eles (esqueci o nome, mas é como uma percussão), alguém que sabe cantar e to tal do marido ainda é um artista de rua, comediante e ator de teatro! E ainda algumas das mulheres do grupo se dispoem a ensinar uma especie de tintura típica daqui, e assim podemos fazer algo nesta parte de trabalhos manuais também!!!


Uma coisa bem curiosa e bem diferente de nós: eu já tinha percebido uma visão e comportamento bem diferente com relaçao a gestaçao, observaçao confirmada em uma de minhas conversas com Paula (brasileira missionária que já está na Africa há 5 anos), que relatou o quanto as mulheres aqui escondem a gestação...Sim, as casadas mesmo, escondem usando umas roupas mais folgadas até quando dá, não falando sobre o assunto. Achei até graça, lembrando das fotos e mais fotos que costumo ver de amigas grávidas expondo os " barrigões" com o maior orgulho nas praias. E aí quando estava anotando as informações das participantes (número de filhos, estado civil, tempo de gestaçao, etc)  notei certo desconforto com as minhas perguntas mais do que normalíssimas...Coumba logo interviu: Carolina, aqui no Mali é algo cultural não se falar sobre gestaçao... Existe uma certa crença de que se deve proteger a criança de maus agouros e por isso tenta-se esconder até o fim. Algumas famílias só descobrem que alguem estava gravida, após o parto, quando são convidados para visitar as crianças. Informaçoes com relacao ao tempo de gestaçao só são normalmente fornecidas a um médico ou enfermeiro, dentro de uma sala fechada...Inclusive ela também falou de sua surpresa quando veio no Brasil, pois como foi criada aqui na africa, me disse que foi um grande susto ver uma mulher expor a barriga em uma praia do Rio, algo que ela jamais poderia imaginar que pudesse acontecer.

Primeira lição para mim depois do primeiro encontro: sempre mostrar para alguém local o planejamento do curso de gestantes, antes de cometer algum " engano" (para não falar mico) em relaçao as diferenças culturais...Mas essa questão específica de esconder a gestaçao me tocou fundo. Algo totalmente compreensível, em um lugar com um histórico de alta mortalidade materna e infantil. Para quer comemorar, divulgar, planejar, sonhar, se há grandes chances de tudo não se realizar??? Aqui a morte acompanha bem de perto o que chamamos literalmente de vida! E o mais sublime momento da vida de uma mulher, a maternidade, ainda está bem longe de ser sublime...

Que a força da arte possa contribuir e permitir alguns momentos especiais na vida destas mulheres. Se é apenas uma gota no oceano, que ela seja de cor rosa e com um brilho especial!!!!

2 comentários:

  1. Oi Lolol,
    Como é maravilhoso entrarmos em seu blog e vivenciarmos, mesmo distantes, de experiências tão humanas e cheias de graça, como nos são repassadas por você. Acho incrível como nós, "seres humanos", somos iguais e tão diferentes! Realmente, é motivo de muita alegria e emoção acompanharmos essa sua trajetória, que, com certeza, está transformando a vida de muita gente, inclusive a nossa.
    Como é bom vermos essa sua felicidade transparecer como num conto de fadas, e, principalmente, sabermos do quanto esses momentos estão nos possibilitando reflexões e posicionamentos do quanto melhores podemos ser. Isso me leva a pensar, que tudo se iniciou a partir das suas inquietudes ao se deparar, durante seu estágio na Januário Cicco, que poderíamos ser pessoas melhores e mais humanas, principalmente quando se acompanha o nascimento de um novo ser.
    Desejo que Deus continue iluminando sua vida e de todos que a acompanham nessa missão sublinhar, e não se esqueça que estaremos aqui sempre rezando pela vida de todos que terão a oportunidade de lhe conhecer e conviver com uma pessoa tão maravilhoso como você.
    Beijos, Temilson, Dodora e Themis Maria.

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  2. Muito legal Carol!
    Que experiência maravilhooosa! Parabéns... Tenho certeza que está valendo muito a pena...
    Nod ia do seu niver, desejo o melhor para você! Que você continue nessa missão maravilhosa!
    Beijoos!

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