quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O que eu faço agora (parte 2)

Terceiro dia na ONG: Jaqueline continua de férias e dr Issa na reunião da UNICEF. Jaqueline me pega as 9:30, disse que iria acompanhá-la à delegacia, mas não entendi direito o motivo. Como eles conversam sempre no dialeto local e só falam francês quando se dirigem a mim, fica mais difícil de saber tudo o que se passa. Bem, entrei na delegacia e claro que não é um ambiente nada agradável, mas creio que não é pior que as do Brasil. Um policial educado nos recebeu, conversaram em bambara e depois fomos encaminhados para falar com o superior. Ela me apresentou a ele, sentei ao lado e acompanhei a conversa. Ela falou no dialeto, mas o policial em francês e vi que ele se justificava e ela, bem alterada, parecia não concordar com suas justificativas. Saímos e ela me disse que iríamos ao tribuna. Só quando estávamos aguardando no tribunal entendi de fato o que houve: uma das meninas que a ONG dá assistência (ajudantes familiares) foi violentada por um rapaz filho do patrão da casa em que trabalhava. Ele foi preso, mas como o pai tem influência, foi solto logo após pela polícia. E Jaqueline me disse que não podia permitir que aquilo acontecesse. Falou com muita energia no tribunal, e saiu dizendo que falaria até com o ministro da justiça, mas isto não ficaria assim, não depois de 1991, ano da criação da APAF. Saí junto admirando mais ainda aquela senhora, que parecia não só defender mais uma menina que é violentada no Mali, mas parecia defender sua própria filha...


Seguimos para umas compras no centro da cidade.Acho que era a feira livre principal, porque vendia de alimentos até artigos como computadores. Um calor daqueles e o barulho nem se fala. Ah, e esqueçam o que eu falei sobre o trânsito daqui, está longe de ser tranqüilo e organizado (risos). Jaqueline comprou um tecido e me perguntou se a cor estava boa. Fiquei torcendo para aquilo não ser para mim (tinha pintado a bandeira do Mali e o dia da independência). Fomos depois encontrar Violet, que é a representante da ASHOKA no Mali. Conversamos sobre o projeto que farei, e ela disse que iria me apresentar a algumas pessoas aqui que gostavam do Brasil. De lá partimos para a embaixada do Brasil e vocês nem imaginam a sensação de ouvir alguém falando em português!!!! Conversei com um brasileiro que me explicou que já estava fechado (só funcionava até meio dia) e fiquei de voltar amanhã. Perguntei se ele poderia depois me dar o contato de algum brasileiro, e ele foi logo dizendo que tinham pouquíssimos morando no Mali. Perguntou se eu iria atuar em alguma região do interior do país e nos despedimos (e eu louca para estender a conversa).

Rio Niger
Pedi para o motorista me deixar em algum cyber café, estava ficando louca sem internet (a da ONG está sem funcionar) e fiquei de voltar caminhando. Pedi informações para um funcionário e ele me explicou calmamente como eu chegaria a pé na APAF ( me deu até o numero de celular caso eu me perdesse), mas claro, lógico e evidente que eu me perdi no caminho de volta. Cheguei em uma avenida perto de uma ponte que eu conhecia e não conseguia atravessar para o outro lado de jeito nenhum. Ah, mas eu não tinha certeza se era para atravessar...Então um rapaz meliense se aproximou e eu não dei a menor atenção, porque pensei que ele vendia algo e também eu estava com um pouco de medo. Como ele insistiu resolvi parar e tentar entender o que ele queria. Para a minha surpresa, era um rapaz que trabalhava na portaria da embaixada do Brasil, estava voltando para casa e me reconheceu. Perguntou se eu estava perdida e me acompanhou até bem perto da ONG. Como diria meu amigo Sandro: coisas que acontecem na vida de Carol... :) :) :)

(impressionada com a educação e gentileza das pessoas daqui)

Ah, agora tenho celular: 70 20 35 87 (mais 00 21 223)

3 comentários:

  1. Carolzinha !!!
    Seu blog está simplesmente lindoooo, massa, massa, massa... é incrível a forma que vc escreve, dá a impressão que estamos aí do seu lado, fico imaginando cada detalhe, cada pessoa, cada cena e cada cheiro que vc nos descreve.
    É impossível ficar sem te seguir, sem ler seu blog um dia sequer...
    bjs... sou sua seguidora assídua.
    Saudades..

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  2. Obrigada querida, com o blog é uma forma de ficar perto de todos tambem..Como vc ta vendo (ou lendo), ta td bem comigo sim, mas a saudade é enorme...Bjaooooooo

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  3. Adoroooooo!!! Essa história ainda vai virar filme! ;)
    Saudade!

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